15 dezembro 2008

Teoria da Liberdade de Escolhas

“TER um corpo humano não garante SER humano. TER é um potencial, SER é uma realização.”
Raphael Ribas

A Teoria da Liberdade de Escolhas aborda uma visão sobre o Ser Humano no século XXI e propõe um conceito e práticas para o desenvolvimento de habilidades emocionais e sociais. Seu principal objetivo é o desenvolvimento da autonomia das pessoas em relação aos seus comportamentos, as respostas que damos aos estímulos que recebemos. Não podemos mudar a forma como o mundo nos trata, mas, certamente, somos responsáveis pelas nossas respostas.

A teoria parte do pressuposto que o fato de TER um corpo humano não garante que é um SER humano. TER um corpo humano nos propicia um imenso potencial, SER humano é realizá-lo. Temos o potencial de criar, de imaginar, de nos comunicar, de amar, de mudar nossa realidade. Esse potencial é o nosso diferencial competitivo dos demais animais. E esse potencial pode ser resumido em um conceito: Liberdade de Escolhas.

Temos uma região no cérebro chamada de córtex pré-frontal que nos garante a possibilidade de refrearmos nossos instintos. Nenhum outro mamífero ou réptil ou ave possui, somente nós. Portanto no mínimo sempre teremos duas possibilidades: agir ou não-agir por instinto. A maioria dos problemas humanos são frutos de um erro de escolha. Sempre há uma alternativa para solucionar ou atenuar um problema, mas muitas vezes a escolha que fazemos o acentua. Se sempre temos escolhas e sempre há uma possibilidade de solucionar ou atenuar um problema, por que há guerras, violência, intolerância?

Porque por mais que tenhamos escolhas devemos encontrar a liberdade para escolher a melhor. TER escolhas não significa SER livre. Você pode perceber essa diferença em seus relacionamentos. Quantas vezes foi dominado pela ira ou pelo medo ou pelo ciúmes e teve atitudes que agravaram ou até mesmo criaram problemas, conflitos? Por mais que naquele momento você tivesse escolha não conseguiu ser livre o suficiente para escolher a melhor reação.

A Teoria da Liberdade de Escolhas propõe conhecimentos, técnicas e ferramentas para que passe a TER mais escolhas (desenvolva a capacidade de aumentar suas possibilidades), possa SER livre para escolher a melhor (inteligência emocional) e aplique esses conceitos para melhorar seus relacionamentos (inteligência social).

31 janeiro 2008

A Força Motivacional

“Ninguém, portanto, a menos que seja vencido por causas externas e contrárias à sua natureza, deixa de aspirar o que lhe é útil, em outras palavras, conservar seu ser. Ninguém, afirmo, pela necessidade de sua natureza e sem ser compelido por causas externas, se negará a alimentar-se, ou se suicidará... Mas que o homem, pela necessidade de sua natureza, busque não existir, ou mudar de forma, isso é tão impossível quanto criar algo a partir do nada, como todos podem concluir meditando um pouco.”

Livro Ética, de Baruch de Spinoza (1632-77)

Como posso agredir aqueles que amo? Como posso fazer algo que reprovo? Se a pessoa acredita em fidelidade por que ela trai? O que nos leva a fazer tantas coisas nas quais nos arrependeremos? Se eu quero viver, por que faço coisas que me matam aos poucos, como fumar? Se minha vontade quer algo por que faço coisas que me afastam do meu objetivo?

Numa analogia com a física, nosso destino é o resultado de um conjunto de forças que atuam em nossas vidas, tanto internas como externas. Nesse estudo analisaremos as forças internas que influenciam nossas escolhas, tendenciando ou limitando. O exemplo será a infidelidade num casamento, onde o infiel é uma pessoa que racionalmente quer ser fiel, mas sucumbe. A pergunta é: se racionalmente queremos algo por que fazemos diferente?

Concordando com o pressuposto de Spinoza, sobra-nos questionarmos: por que e como somos vencidos pelas causas externas? Quais forças participam dessa batalha? Quais as conseqüências de perdê-la? E como posso vencer?

Para um melhor entendimento desse estudo, partiremos de uma aspiração comum a todo ser humano: a felicidade. Não cabe aqui uma discussão sobre o que é felicidade, cada um tem seus valores que determinam o que trás felicidade para si. Porém, acredito que a essência da felicidade esteja na harmonia entre paz, alegria e prazer. Acredito que o principal deles é a paz, pois sem ela a alegria é curta e o sofrimento é longo.

Para entender o que é paz, feche os olhos e veja quais imagens, palavras e sons aparecem em sua mente. Branco, silêncio, tranquilidade e sentimento de segurança são as principais idéias associadas ao conceito de paz. Falta de paz é quando faço algo que não considero correto, faço algo contrário a minha essência.

Portanto, por mais que eu queira algo, não conseguo agir nesse sentido. Assim, sua vontade sucumbe a outras forças. Chegamos a conclusão que o que é vencida é a força de vontade. Nesse estudo nos restringiremos ao estudo dos componentes da força de vontade.



  • A mais concisa e completa definição de ser humano é: animal racional. Possuímos um corpo animal e uma mente racional. É lógico a todos que se seguíssemos todos os nossos impulsos animais geraríamos vários problemas. Portanto nesse estudo o termo vontade refere-se as escolhas racionais e aspirações os desejos que produzem boas conseqüências.

Toda força possui dois elementos básicos: direção e potência. A direção é determinada pelo objetivo. O tamanho da potência é definido pela força da motivação. A vontade é realizada numa ação. Com isso, encontramos os três componentes envolvidos na força de vontade: o pensamento, responsável pela escolha da direção; a emoção, principal componente motivacional; e o comportamento, a ação gerada.


A parte mais prática e perceptível desse processo são as conseqüências dos comportamentos. E quando conseguimos identificar a relação causa-conseqüência dos efeitos não desejados, faz-se necessário o uso da força de vontade para mudar o comportamento.


  • Para um melhor entendimento da possibilidade e as condições necessárias para a mudança de um comportamento, ler os estudos: fundamentos da liberdade de escolhas e níveis de liberdade de escolhas.

A tendência das pessoas é gastar suas energias tentando mudar somente os comportamentos.

  • A técnica usada é a punição-recompensa, onde puno os comportamentos indesejados e recompenso os desejados. É a essência do adestramento animal.

Agem assim consigo e com os outros. Comigo reprimo meus impulsos e com os outros punindo ou recompensando as atitudes. Porém, essa não é a única variável em nossas atitudes.

Esquecem que o que pensamos influencia nossos sentimentos e nossos comportamentos. Nossos comportamentos influenciam nossos sentimentos e pensamentos. Como nossos sentimentos influenciam nossos pensamentos e nossos comportamentos. Da mesma forma que influenciam, eles reforçam. Há uma forte relação de interdependência. Portanto, quando os três estão desalinhados há um imenso desperdício de tempo e energia. Nesse ponto reside a principal dificuldade das pessoas. É necessário um esforço muito grande de ações repetidas por longo tempo para que o comportamento modifique o pensamento e o sentimento.

A interdependência não exclui a hierarquia entre os três. Por mais que comportamentos repetidos formem os sentimentos, é necessária somente uma experiência carregada de um forte sentimento para que se mudem os comportamentos. O mesmo acontece na relação do sentimento com o pensamento. Quando passo por uma profunda reflexão, o auto-conhecimento gerado pode mudar minhas prioridades e a nova convicção pode mudar meus sentimentos e comportamentos.

Cada um forma um nível na força motivacional: físico (comportamento), emocional (sentimentos) e mental (pensamento). Cada nível é decomposto em 2 vetores, fuga e busca. A fuga é motivada pelo medo e a busca pelo desejo. Os vetores são as forças componentes da motivação.

No físico são: fuga de dor e busca de prazer.

No emocional são: fuga de sofrimento (fracasso) e busca de alegria (sucesso).

No racional são: fuga de medo (insegurança, culpa) e busca de segurança (harmonia, paz).


Diagrama dos vetores da força motivacional


Cada vetor possui sua direção e sua força “puxando” a força motivacional. Um vetor pode superar em força os outros e definir o sentido da motivação, como todas as forças podem se anular em direções opostas e forças equivalentes, tornando a vontade inerte, como a direção de dois ou mais vetores serem a mesma, assim suas forças se somam.
O resultado da combinação desses vetores define a direção e a força da motivação, em outras palavras, possuo uma motivação física, uma motivação emocional e uma motivação racional e o resultado forma a minha motivação geral.

Somente existe força de vontade quando a força motivacional está direcionada para aquilo que aspiro, ou seja, escolhi deliberadamente. Caso contrário a força de vontade sucumbiu às causas externas. Portanto, o desafio está em alinhar os vetores motivacionais na direção dos meus objetivos.
Estudo de Caso
Situação: uma pessoa casada.
Aspiração: ser fiel. Por ser um desejo sua matriz é busca. Por ser uma idéia sua substância é um pensamento. Portanto é um vetor motivacional de Busca de Segurança (paz).
Atenuantes: a tendência é que a força desse vetor seja definida empiricamente, em outras palavras, minhas percepções das minhas experiências passadas formam a rede de relacionamentos desse vetor (Busca de Segurança) com os outros vetores. Nesse caso: no passado essa pessoa sofreu alguns casos de traição que provocaram um profundo sofrimento. A tendência é que o vetor Fuga de Sofrimento esteja posicionado em direção oposta ao Busca de Segurança e caso não haja nenhuma experiência positiva referente à fidelidade, o vetor Busca de Alegria não compensará a Fuga de Sofrimento, onde Fuga de Sofrimento possivelmente torne-se o principal vetor na composição da aspiração ser fiel.
Momento: o casamento está passando por inúmeras dificuldades, chegando a agressões verbais entre as partes.
Composição motivacional: o vetor Busca de Segurança está direcionado para a manutenção do casamento. Porém, a força desse vetor foi reduzida empiricamente e o vetor Fuga de Sofrimento recebe energia adicional pelo momento vivido. Nesse caso o vetor Busca de Alegria pode perder sua direção vinculada ao Busca de Segurança e se direcionar para outro sentido, por exemplo: a Busca de Alegria (sucesso) no grupo de amigos ao transar com uma mulher cobiçada. Nesse caso, sua força é potencializada pelo vetor Busca de Prazer. O vetor Fuga de Medo até pode estar alinhado com o Busca de Segurança, tendo em vista o receio de ficar sozinho, conhecer uma nova pessoa, iniciar um novo relacionamento e decepcionar-se novamente, ou seja, fuga do medo do novo, assim o vetor direciona-se para a manutenção do casamento. Dependendo do nível de sofrimento do momento atual, este pode gerar dores, direcionando o vetor Fuga da Dor para qualquer alternativa fora do casamento.
Diagrama:
Resultado: se a força combinada dos vetores: Busca de Segurança e Fuga do Medo, for menor que a combinação dos vetores: Busca de Alegria, Busca de Prazer, Fuga de Sofrimento e Fuga da Dor, certamente a pessoa tornar-se-á infiel ao seu casamento. Assim a força de vontade sucumbiu as causas externas que mudaram os vetores motivacionais enfraquecendo o objetivo definido. Por outro lado, por mais que a maioria dos vetores esteja direcionado para fora do casamento, se a pessoa possui um forte caráter fundamentado em princípios, a força do vetor BS pode superar a combinação de todos os outros e apesar de estar sofrendo em seu casamento, busca resolver o problema ou até mesmo se separar, antes de agir contra a sua consciência.
Observações: o nível de força de cada vetor é influenciado por diversos fatores, sendo relativa a cada um, cada história de vida e cada momento. As principais variáveis são: genética, personalidade, perfil comportamental, formação de vida, percepção das experiências passadas, cultura social de convívio e formação, conhecimentos, critério de valores, emoções, auto-conhecimento, disciplina e domínio da capacidade de raciocínio.

Resumindo:
  • Que corpo você tem?

  • Como reage emocionalmente as experiências?

  • Quais valores sociais predominantes na sua formação e convívio e sua influência nos seus conceitos?

  • Quais conhecimentos possui?

  • Quais seus valores internos?

  • Qual o seu domínio da capacidade de raciocínio?
Um pouco sobre a Liberdade de Escolhas

Essencialmente, o principal fator na definição da direção e força dos vetores é o crivo racional, a percepção, que pode ser voluntária (deliberada por você) ou involuntária (condicionada pelo meio). Por mais que a maioria das experiências seja processada sem a atuação consciente, todos podem ser reeditados posteriormente. Possuímos duas potencialidades que nos permitem isso: a imaginação e a linguagem.
Mediante a imaginação podemos gerar experiências virtuais que podem alcançar o mesmo peso das experiências reais. Pesquisas feitas com o mapeamento do cérebro mostram que não há diferença na reação quando o olho vê uma imagem ou quando a mente imagina ver aquela imagem.

A linguagem nos proporciona algo talvez mais fascinante: determinar ou reeditar as percepções. Quando traduzimos nossas sensações e experiências em palavras, ao mudá-las podemos mudar as sensações e percepção das experiências. Esse é um dos fundamentos da psicoterapia, resgatar o domínio da história do paciente mediante a tradução das experiências em palavras.

Por mais que a percepção consciente não seja a origem das interpretações da maioria das nossas experiências, mediante as potencialidades de imaginação e linguagem podemos alterar as percepções passadas e escolher como vamos perceber as situações atuais.